Em 1995, havia três cursos de cinema e audiovisual ativos no Brasil. A Universidade Federal Fluminense UFF), a Universidade de São Paulo (USP) e a Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) mantinham a chama do cinema universitário acesa. O primeiro curso, fundado na Universidade de Brasília (UnB), conservava o departamento, porém não havia alunos inscritos e o vestibular estava suspenso por tempo indeterminado. A situação era essa: dois cursos em São Paulo (um em instituição pública e um em instituição privada) e um no Rio de Janeiro (em instituição pública), compunham todos os estudantes de audiovisual no Brasil.Especificamente, o ano de 1995 é um ponto de inflexão na historiografia do cinema brasileiro, já que é o início da “retomada”, termo designado para destacar o regresso de longas metragens de ficção ao circuito comercial, depois de um início de década praticamente sem produção, e menos ainda, distribuídas comercialmente. Este também é o ano de fun- dação do Festival Brasileiro de Cinema Universitário (FBCU), composto majoritariamente por curtas, formato menos pres- tigiado por historiadores, que tendem a considerar os longas filmes de maior relevância para a história do cinema brasi- leiro, como lembra Jean Claude Bernardet no livro Historio – HISTÓRICOgrafia Clássica do Cinema Brasileiro, publicado em… 1995. Entretanto, é importante pensar o cinema para além dos fil- mes em si e destacar todos os componentes que estão em jogo. Neste caso, que os cursos universitários foram respon- sáveis por manter a produção regular de filmes em película àquela época, e que o FBCU teve a percepção de reunir tais trabalhos, sedimentando parcerias e fortalecendo o nicho da produção cinematográfica estudantil.Nesta vigésima edição (em 2014 e 2016 não foi realizado) do FBCU, é significativo construir um pequeno retrato de toda a empreitada para o surgimento do festival e de sua consolidação ao longo dos anos, fundamental para compreender as últimas duas décadas do cinema no Brasil. O empenho em organizar o primeiro festival universitário, arquitetou uma proposta pioneira, pois “se apóia em um equilibrado tripé cultural, educativo e social, três vertentes que se confundem entre si e com a própria natureza do evento” (Sauerbronn, 2008, p.16). Afinal, em um período em que nem os longas circulavam e a Lei do Curta já não era atuante, a produção universitária era totalmente desprezada fora de um nicho muito específico. Muitas mudanças ocorreram desde então.Em 2017, esse panorama está completamente modificado: são mais de oitenta cursos distribuídos por todas as regiões do Brasil, entre instituições privadas e públicas, segundo pes- quisa do Fórum Brasileiro de Cinema (Forcine), realizada em7 2016. Tais números representam a mudança de status do cinema nas universidades brasileiras, além da própria confi- guração da produção cinematográfica nas últimas duas dé- cadas, em que o FBCU esteve diretamente presente.A maturação do festival não foi do dia para a noite, claro. Dois anos antes da primeira edição, foi realizado o 1º encontro de estudantes de cinema em São Paulo, nas dependências da FAAP. Infelizmente, não há qualquer registro desse encontro, mas é corrente que de tal união surgiu o entusiasmo para que essa rede do cinema universitário continuasse existindo. No ano seguinte, estudantes das três escolas foram até Cabo Frio e realizaram coletivamente o curtametragem Bem Vindo a Sal Grosso. Este filme, exibido na primeira edição do FBCU, sacramentou a relação próxima entre os componentes das escolas que compartilhavam os mesmos desejos, mas não mantinham contato.A concepção inicial era realizar o FBCU em Cabo Frio, todavia por adversidades de estrutura, coube a UFF produzir a primeira edição. Nasceu, então, a ideia de construir uma organiza- ção itinerante, o que também não aconteceu e Niterói passou a sediar o festival permanentemente. Assim, moldaram-se características gerais que perduram até hoje.A primeira edição foi um sucesso, infelizmente não há um catálogo para conservar a memória do evento. No entanto, foram nove dias no Cine Arte UFF, oitenta filmes inscritos e exibidos, patrocínio da Kodak (que apoiou até a quinta edi- ção, exceto a segunda) e uma bela homenagem a Roberto Santos, diretor, roteirista e ex-professor de cinema da ECA/ USP, que havia falecido em 1987. E mais importante, gerou a sensação de que era possível organizar um festival universitário com sucesso.